terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Futuridade"

QUERO UMA NOVA VELHICE

Minha avó caiu. Não pensei na gravidade da frase, da queda. Quando temos mais de 60 anos, verbos como cair, tropeçar e adoecer são muito perigosos. Havia quebrado a bacia e ferido o braço. Minha mãe chorou e todos em casa estavam tristes. Ainda não compreendia a gravidade da queda. Do hospital veio a boa notícia: ela iria se recuperar, mas devagar.
Neste momento compreendi a gravidade da queda: mais que danos físicos, a queda machucou o coração. Quando cai, o idoso sempre se machuca no coração. Assim foi com minha avó: caiu e entristeceu-se. A tristeza da velhice é irrecuperável e, ao longo do tempo, só aumenta.
As visitas à minha avó sempre eram tristes, apesar de tentar manter a alegria no ar. Cada dia que passava ela estava mais e mais triste. Seus olhos me emocionavam. Deve ser difícil se reconhecer frágil e com limitações antes superadas. Deve ser difícil se reconhecer velho.
Durante essas visitas, eu me pegava a refletir: como pode uma cidade pacata , com a maioria da população idosa, não oferecer segurança e saúde necessárias para que eles vivam?
Como minha vovó conseguirá, depois de curada da queda, passear na cidade, se buracos a impedem de se sentir segura? Como visitar suas amigas velhinhas para um chá, se todas as casas possuem escadas enormes? Na verdade, existe a possibilidade quando existe ajuda. Mas como não perceber o fim se já não se faz nada sozinho?
Não me imagino velho, me imagino triste. Não quero ter tempo para despedidas, elas sempre me aborrecem. Não quero viver o fim. Não quero perceber minhas rugas, nem minha fragilidade. Não quero não aceitar minhas novas condições velhas, pois somente dificultaria a felicidade.
Na velhice, não quero cair, para que, assim, no fim, eu esteja feliz.

Luan- 3ºEM/2010

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